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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Capítulo I de "Vida na estrada"

Capítulo I de "Vida na estrada"



Caros Amigos, 


Como sou um "gajo" porreiro, e porque vocês bem merecem dado o apoio incondicional com que me 
fazem o favor de brindarem todos os dias, permitam-me que vos presenteie com uma parte do 
Capítulo I da minha mais recente obra, ainda em execução, de " Vida na estrada ".
Apraz-me verificar a curiosidade que tem suscitado por parte de todos vocês pelo interesse na leitura deste livro.
Resultado disso é o número de gostos que a página tem vindo a registar, já quase nos 200 e isto em apenas alguns dias. Continua a crescer diariamente para meu regozijo.
A quantidade de pessoas que mostram interesse em saber como é a vida diária de um camionista TIR, 
confesso ter superado todas as minhas expectativas. É bom sinal e um excelente augúrio para aquilo 
que aí vem.
Seguramente e após a publicação deste livro, dentro em breve, e o público em geral, verá os camionistas destes gigantes da estrada com outros olhos que pretendo sejam de enorme respeito, 
consideração e fundamentalmente de extrema sensibilização para quando se cruzarem com eles na 
estrada.
Então e sem mais delongas deliciem-se com este pequeno trecho do seu Capítulo I.
Até breve!


Joel Azevedo


P.S.: Não se esqueçam de PARTILHAR este post por todos os vossos amigos, fazerem o respectivo 
"LAIQUE" na página e prepararem umas "LEQUITAS" para o comprarem. 
Os autógrafos ofereço EU! ;)




Capítulo 1

"6 de Outubro de 2006"



" Dia cinzento. Algum frio se faz sentir.
Sentado num dos sofás do hall da entrada da empresa, aguardo com um nervoso miudinho ao fundo da barriga, pelo “Seu Zé”.
“Seu Zé”, é nem mais nem menos do que o fundador da empresa – JLS TRANSPORTES INTERNACIONAIS, SA, sediada em Viseu, junto á A23.
É dia de lhe provar estar apto para me confiar um dos seus inúmeros camiões e começar a ganhar dinheiro suficiente para assegurar que nada falta á minha adorada filha, trazida ao mundo 18 meses antes.
Finalmente, faz-se entrar no hall, pela porta de acesso aos escritórios e enquanto a fecha aproveita para dar as últimas ordens aos seus colaboradores.
Fita-me e pede que o siga.
Acompanho-o a seu lado enquanto o oiço atentamente as suas instruções e sábios conselhos.
Tenta tranquilizar-me para aquilo que diz ser simples.
- “Ouve o carro! Ele fala contigo pedindo-te o que quer que lhe faças!”. Diz em voz tranquila.
- “Respeita o camião e ele respeitar-te-á sempre!”
- “Mantém-no imaculado! Ele vai ser a tua casa de hoje em diante! Quero-o sempre limpo! Ele e tu são a imagem da empresa na estrada e no estrangeiro! E nós, prossegue, somos uma empresa limpa, honesta e muito profissional!”.
Vai assim me informando com todas as indicações, identificando-me com os seus objectivos, enquanto, parque fora, caminhamos em frente de algumas dezenas de camiões que se encontram “encostados” aos cais, uns sendo carregados outros descarregados.
Pára a dada altura em frente a um Scania, já um pouco velhinho. O reboque não escondia a idade mas desde que tudo funcionasse em pleno, para mim, não era problema.
“Seu Zé” abre a porta do condutor. Sobe um degrau e espreita-o.
- “Isto está uma merda! Há gente muito porca!”, profere de forma assertiva e de semblante franzido.
- “Foi por causa disto que tive que despedir este senhor!..., continua, convidando-me a subir ao camião.
- “Aqui está o claro exemplo de que como não aceito ter os camiões, sob pena de despedimento imediato.”
Subi e o cheiro que exalava do interior da cabine era simplesmente nauseabundo.
Imaginem o cheiro de carne podre. Está imaginado?!... Era bem pior!
O motorista em questão, fazia-se transportar com o seu pequeno cão, por esse mundo fora.
Comida de cão espalhado por toda a cabine, pêlos do fiel amigo entranhados nos estofos e colchões do tractor e o respectivo “cheirinho” do canídeo, juntamente com o do humano, que se depreendia facilmente “estar de candeias ás avessas” com o precioso líquido da Mãe Natureza.
“Seu Zé” estava coberto de razão e de imediato grita pelo responsável da frota para que marquem, urgentemente, uma desinfestação e higienização da cabine na “marca”, ordenando que os custos das mesmas fossem subtraídos ao ordenado haver aquando do pagamento do seu último salário.
- “Se o carro está assim eu imagino a casa do senhor...”, continua com o desabafo.
O estado da cabine era verdadeiramente nojento. Sim, também existem motoristas que tem fobia á água. Este era um desses.
“Seu Zé” desce do tractor e pede que assuma o seu lugar atrás do volante do velho Scania.
Obedeço imediatamente e observei-o atentamente para onde se dirigia.
O nervoso “miudinho” que se tinha desvanecido por força dos conselhos do patrão, tinha agora regressado de forma intensa.
“Seu Zé” preparava-se para entrar no lugar do “pendura” para dar início ao “exame”.
- “Tou fodido!”, pensei de imediato.
Tentei chamar a sua atenção para um dado para mim de fulcral importância. É que durante toda a minha formação o carro que conduzira tinha sido um Renault Magnum, que em termos de condução e funcionamento era totalmente diferente do velhinho Scania.
De nada me valeram os reparos e “Seu Zé” tranquiliza-me dizendo que um motorista tem que saber conduzir qualquer camião. Tem razão, sim senhor. Insiste, desvalorizando o facto e refere que o Scania é bem mais simples de conduzir.
Defendo-me para algum eventual erro na condução, designadamente na troca de mudanças.
Eram mais que muitas, altas, baixas, meias, quase parecia um electrocardiograma.
Para além disso, tinha que estar atento ás luzes do “tablier” que me indicavam as rotações correctas para efectuar as mudanças de velocidades.
Qual “Michael Schumacher”. Se não for assim que se escreve o nome do senhor que se foda, motorista que é motorista escreve mal é bronco e cheira a cavalo. ;)
Mais 17 metros e meio de preocupação, o patrão proferindo sábios conselhos e indicações, atenção ao trânsito, aos sinais, foda-se, tanta merda para estar atento que só mesmo um “gênio” sabe conduzir esta merda.
Comparar a cabine do Scania com a do Renault Magnum é o mesmo que comparar um T0 kichnette com uma moradia da Foz. Nada a ver.
No conforto também eram distantes as suas diferenças.
O Scania era bem mais dura. Dura como cornos e por cada buraco que não fosse possível contornar as nossas costas avisam-nos de imediato disso mesmo.
E por falar no conforto das suspensões destes gigantes, abro aqui um parêntesis que acabo de me lembrar e  que não resisto a partilhar convosco.
Então aqui vai. Exame de condução. Local Braga. Viatura, um Renault de mil novecentos e troca o passo com “chico”. Para os mais leigos nestas coisas dos camiões, “chico” é o atrelado, não fossem vocês, mentes perversas, pensarem obscenidades. Examinador? Uma “TIA”, de salto alto agulha, cabelo emproado e cheio de “LAQUÉ”, como dizem os irmãos brasileiros, e um casaquinho de um vermelho discreto que em caso de acidente éramos vistos a quilómetros de distância. Uma simpatia de senhora. Com umas trombas fazendo lembrar a traseira de um qualquer reboque acidentado. Na época, construía-se o Estádio da Pedreira. Num dos seus arruamentos, mesmo perto do dito, a estrada encontrava-se esburacada pela quantidade de camiões que se deslocavam a toda a hora para a obra daquele magnífico recinto desportivo. Confesso que a velocidade a que seguia, deveria ser um pouco menor daquela a que rolava, mas ainda assim dentro do limite permitido por lei. Eis senão quando, vejo um buraco de dimensões generosas, mais ou menos do tamanho do cabelo emproado da examinadora e como um ligeiro se fazia ultrapassar nesse mesmo momento, não pude evitar a “depressão rodoviária” e embato com o pneu na dita e simultaneamente olho para a “minha convidada”. Toda no ar, meus caros leitores, literalmente no ar. Não fosse o cabecinha da senhora a servir de pára-quedas e a amortecer o impacto e provavelmente tinha saído tecto fora e aterrado no pequeno jardim que ladeia a avenida. Hilariante. Esta tinha que vos contar. Só me apetecia atirar para o chão a rir e ela “fodida” enquanto arranja o “capacete”:
- “Não viu o buraco?!...”
- “Claro que vi. Mas adoro ver examinadoras no ar. É um fetiche meu, cabrona!” Pensei mas não disse, como é óbvio.
Deu-me cabo da cabeça durante largos minutos porque é assim que se lesiona permanentemente as costas das pessoas, blá, blá, blá...
Quanto mais ela falava no salto, mais me apetecia rir e fazia um esforço do “caralho” para não me desatar a rir, mas ao mesmo tempo pensava:
- “Já foste, meu menino! Ela vai-te “foder”!
Chegados ao local da partida do exame, e depois de fugir a uma “ratoeira” da doce senhora e o “pópó” já desligado, pergunta-me:
- “Para que quer a carta de camiões articulado?”
- “Para ser escritor daqui a uns anos, minha “estúpida do caralho”!...
Que puta de pergunta?
Bom, a senhora foi mesma simpática comigo e lá me passou desejando-me as maiores felicidades e saiu porta fora. E eu dentro do carro desatei a rir-me como um perdido sob o olhar de estupefacção das pessoas que por mim passavam, inclusivé outros examinadores que esboçam simpáticos sorrisos provocados pela minha figurinha.
Voltando “á vaca fria”, arranquei o velhinho Scania, com extremo cuidado, sob indicação do patrão.
Enquanto saímos do “nosso” parque aconselha-me de forma marcante, uma vez que memorizei, doravante, o seu mandamento.
- “Sempre que te sentires com sono, não lutes contra ele. Jamais o conseguirás vencer! Encosta mal possas e dorme o tempo que for necessário. Depois prossegue viagem. Mais vale uma carga chegar tarde ao destino do que nunca lá chegar.”
Nunca esqueci este valioso conselho. E foram variadíssimas as vezes que o motor me “embalou”, mesmo depois de boas noites de descanso, como sempre me preocupei em fazer.
Não fossem as famosíssimas  “guias” da auto-estrada e provavelmente este livro jamais seria escrito.
Ao inventor destas “milagrosas” guias deveria ter sido atribuído um Nobel.
Talvez o de “Salva-Vidas Mundial”.
Não fazem ideia da quantidade de pessoas que estes “acessórios” da auto-estrada salvam durante um único dia."...

Gostaram?!...
Aguardo comentários.

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